segunda-feira, 19 de março de 2012

Déda continua buscando apoio de deputados do DEM: "A mim, interessa saber onde vão estar"


Por Raissa Cruz e Eron Ribeiro

O governador Marcelo Déda está disposto a atirar para todos os lados para montar sua maioria na bancada da Assembleia Legislativa. Na entrevista concedida com exclusividade a jornalistas do Universo Político.com, o governador fala das conversas que tem mantido com Jerônimo Reis e Goreis Reis do DEM e do objetivo em formar uma base "que tenha compromisso". Déda comentou também sobre as eleições em Aracaju e defendeu a unidade do bloco (PT-PCdoB-PSB) em torno de uma candidatura única. "Quem quiser voar sozinho não me procure para conversar". O governador respondeu ainda sobre reajuste do servidor, reforma no secretariado e outros temas. Confira:

Universo Político.com - Durante seu discurso por conta do aniversário de Aracaju o senhor elogiou o prefeito Edvaldo Nogueira (PCdoB) dizendo que ele mostrou que "não é preciso traição para anteceder sucesso", isso foi uma indireta àqueles que o senhor teriam supostamente traído o senhor?

Marcelo Déda - Não. Foi só exaltando a lealdade de Edvaldo Nogueira. Uma das maiores virtudes que um político pode ter é a lealdade. Lealdade não é sinônimo de subserviência, não significa fazer o que não quer ou romper com as ideias que defende. Lealdade é a capacidade que as pessoas têm de serem fiéis a si próprias e àqueles que com ele integram determinado projeto. Nesse sentido, Edvaldo é um exemplo de lealdade para a vida pública brasileira e para a vida pública sergipana.

UP - Para quando está previsto o anúncio da reforma do secretariado que o senhor disse que faria, e como se dará?

M. D. - Eu acho que em abril. Estaremos promovendo uma grande reforma no secretariado que irão traduzir um novo momento político e que irá promover mudanças administrativas em algumas áreas que nós queremos alterar a forma como ela vem sendo gerenciada. Uma reforma que tem um conteúdo político, mas também tem um conteúdo administrativo. Eu estou refletindo sobre ela, no momento estamos trabalhando em um diálogo permanente com alguns parlamentares a recomposição da maioria do governo da Assembleia Legislativa

UP - É verdade que o vice-prefeito Sílvio Santos está cotado para integrar o governo?

M. D. - Eu não estou discutindo nenhum nome ainda. Não há nenhuma discussão, tudo que se falar até o momento é especulação ou fruto de análises legítimas daqueles que acompanham a política sergipana.

UP - Em relação à Educação, no lugar de Belivaldo Chagas, o deputado federal Márcio Macedo pode assumir e, na Saúde, Jorge Alberto? O senhor pode antecipar sobre estes nomes que estão sendo especulados?

M. D. - Eu não posso antecipar nada, no caso de Belivaldo pior ainda, porque ele foi lançado como candidato ao Tribunal de Contas do Estado, obteve 24 assinaturas, mas houve um processo político que cindiu a base do governo e agora esse processo está sendo reexaminado. Portanto, eu não posso antecipar, porque nada está definido. Belivaldo continua secretário do Estado da Educação.

UP - Para a decisão de Belivaldo ser escolhido para o Tribunal de Contas, como será a participação do governador?

M. D. - Torcer muito porque ele merece. É um grande homem público. Um homem que tem uma história na administração pública de Sergipe, foi quatro vezes deputado estadual, foi vice governador, foi secretário de Estado, tem experiência, formação, caráter ilibado e é querido pelos colegas e ex-colegas. Belivado reúne condições que fariam extraordinária a escolha da Assembleia. A mim compete emitir a opinião de solidariedade e apoio a Belivado, mas ao mesmo tempo ter tranquilidade para esperar que a Assembleia Legislativa, que é o poder que escolhe, tome a sua decisão.

UP - Sobre a sua composição na bancada da AL, como o senhor encara a possibilidade da deputada Gorete Reis, na direção do ex-deputado Jerônimo Reis, ambos do DEM de João Alves Filho, fazerem parte do seu governo?

M. D. - Nós vamos constituir a nossa base na Assembleia da mesma forma que fizemos em 2007. Lembre-se que eu só elegi 10 deputados estaduais em 2006. Eu precisei buscar parlamentares que assumissem compromisso com nosso projeto em outros partidos que não eram aqueles que não integravam a minha coligação original. É do jogo democrático brasileiro. Só os ditadores governam sem o legislativo. O Brasil é uma democracia e não uma ditadura, e eu sou governador eleito e não um ditador. Eu preciso buscar os deputados que queiram apoiar a nossa administração. Todos aqueles que tiverem a disposição de apoiar e quiserem oferecer sustentação aos nossos projetos, acreditando na possibilidade de melhorar o nosso Estado, serão bem aceitos. Estou conversando com vários parlamentares buscando construir essa maioria de forma bem tranqüila. Eu não estou perguntando ao deputado onde ele esteve, mas sim onde ele vai estar.

UP - O acha que a poeira em torno da polêmica eleição da Mesa Diretora da AL já baixou um pouco depois, inclusive as palavras da deputada Maria Mendonça dizendo que faltou habilidade do senhor, já foram superadas?

M. D. - Eu acho que a poeira nem levantou e nem baixou. Os fatos aconteceram. Nenhuma fala, nem frase e nem um texto é capaz de ser mais eloquente do que a própria realidade. Não estamos debatendo uma discussão de bastidores. Tivemos um fato político que ocorreu no teatro mais privilegiado da vida institucional democrática que é o Poder Legislativo. Aconteceu um episódio em que o governo perdeu a maioria e o papel do governador agora é construir uma nova maioria que tenha compromisso, que possa dar sustentação ao governo sem que tenhamos uma situação como aquela que ocorreu. Sobre discursos parlamentares, eu não quero comentar, não sou deputado, então não vou apartear ninguém. O que tinha que resolver se resolveu, quem tinha que sair já saiu. É a vida que segue e não espera por ninguém. Tenho que continuar meu trabalho sem ficar remoendo.

UP - Alguns deputados que votaram a favor da eleição da Mesa Diretora afirmam que querem permanecer na bancada governista. Esses deputados contaram com a confiança do senhor ou serão excluídos?

M. D. - Nós estamos construindo a base. Eu não sei com quem vou contar ou vou deixar de contar porque esse processo não foi concluído ainda. Num certo momento vocês vão ter deputados da base do governo atuando dessa maneira na Assembleia e aí verão aqueles com quem eu assumi compromisso.

UP - Sobre o reajuste dos servidores, o secretário João Andrade foi prestar contas no Legislativo Estadual e afirmou que só será possível o reajuste linear. E os aposentados e pensionistas do Estado foram passados para o final do calendário. O que o senhor tem a dizer a esse respeito?

M. D. - Nós estamos examinando agora em março a decisão do governo em relação ao reajuste, mas há um fato sobre o qual o governo não pode fazer nada, que é quanto a Lei de Responsabilidade Fiscal, que diz que quando se atingi o limite prudencial não se pode dar reajuste acima da inflação. Isso é uma letra de Lei. Nem Déda, nem João Andrade e nem ninguém pode passar por cima dela. A segunda questão é fizemos um remanejamento didático. Concentramos em três dias por uma razão muito simples. A última parcela do fundo de participação dos Estados é paga no dia 30. Para fazer os pagamentos é preciso ter fluxo de caixa. Com a queda do FPE (Fundo de Participação dos Estados) o Estado ficou sem condições de antecipar os pagamentos antes de chegar o recurso do fundo, porque esse recurso é utilizado para pagar. Então nós vamos receber a última parcela do FPE e imediatamente fazer o pagamento dos inativos. Não temos caixa no dia 25 ou 26 para fazer o pagamento de uma obrigação que é financiada pela fonte 00, já que é um déficit de 30% na folha dos inativos. Tudo o que nós arrecadamos como contribuição do Estado e dos servidores na área da previdência não é suficiente para pagar a folha do mês. Eu tenho que esperar o FPE chegar para fazer a complementação dos valores que faltam na folha dos aposentados. É óbvio que acusa um certo desconforto inicial, mas depois as pessoas vão se acostumar com o novo calendário.

UP - Sobre a candidatura do PT em Aracaju, qual será a participação do senhor na escolha entre o deputado federal Rogério Carvalho e a estadual Ana Lúcia? O senhor já tem preferência?

M. D. - Eu vou votar. Se tiver alguém precisando de um voto me procure. Na verdade a militância vai aprovar o seu pré-candidato, cumprindo um capítulo do processo interno do PT e abre-se um novo capítulo com os partidos aliados. O que nós teremos a seguir será um processo muito complexo que busca consolidar um bloco unitário para sustentar uma candidatura a prefeito de Aracaju. Em minha opinião, é preciso compreender que o partido vai colocar na prévia a aprovação de um pré-candidato que será apresentado ao campo da coligação. Devemos buscar sair unidos com aqueles que permanecem como base desse projeto de governo tanto na prefeitura quanto no governo do Estado.

UP - Então o senhor defende ainda uma candidatura do bloco, que possa até não ser do PT, e esteja junto com o PSB, por exemplo?

M. D. - Claro. A partir do momento que o PT define um candidato esse candidato tem que ter humildade e o partido tem que ter bastante inteligência para entender que a responsabilidade de travar essa disputa não é exclusiva. Eu não sou governador apenas do PT. Sou um filiado do PT que governa a partir do apoio de uma coalizão. Edvaldo não é prefeito do PCdoB? Mas governa a partir de uma coalizão. Portanto, quem quiser voar sozinho não me procure para conversar, a não ser que nós não tenhamos nenhuma possibilidade de unidade, até porque eu tenho responsabilidade para com aqueles que demonstraram nos últimos episódios serem solidários ao nosso projeto.

UP - Diante do que aconteceu na eleição da mesa da Assembleia, o ex-governador João Alves Filho fez um pronunciamento dizendo que faltou habilidade do senhor para tomar posição de líder e não permitir o que aconteceu. Como o senhor responderia a isso?

M. D. - Diria que o mesmo faltou a ele para ser governador, tanto que ele está fora e eu estou dentro.

Da redação Universo Político.com

Nenhum comentário:

Postar um comentário